CAPÍTULO 1
(1992,
Cidade de Alpendres. É o último comício antes da eleição. O
candidato a prefeito Felix Villard discursa e pede os votos da
população)
Felix:
Por uma
cidade mais justa, com mais empregos e respeito à vida, vote 99,
Felix Villard. Vamos em frente que Deus é por nós!
(Todos
comemoram. O jovem casal Ana e Joaquim vão para casa e conversam)
Ana:
E aí, você
acha que ele ganha?
Joaquim:
Tem grande
chance. Além do que, eu quero muito que ele vença, lembra que eu
sou professor pela prefeitura.
(As
meninas choram.)
Ana:
Ai, meu
Deus! Vamos lá! Estão chamando a gente.
(Alguns
dias depois, sai o resultado da eleição, Felix é eleito. No meio
de toda a festa, a esposa dele, Adelia vai à casa de Ana e bate na
porta.)
Ana:
Já vou.
(Abre
a porta.)
Ana:
Dona
Adelia?
(Cidade
de Fortaleza: O jovem Diácono José Maria está na sacristia se
preparando. Entra o idoso Padre Angelo)
Padre
Angelo: Ainda
aí, meu filho?
José
Maria: Sim,
senhor, padre. Estava pensando.
Padre
Angelo: Em
que pensava, jovem?
José
Maria: No
passo importante que eu vou dar na minha vida domingo. É uma decisão
muito grande.
Padre
Angelo: Quer
desistir?
José
Maria: Não,
padre. Não é isso. Mas é que eu queria que neste dia estivessem
comigo os meus maiores amigos. Mas eles moram em Alpendres e não
puderam vir. Inclusive eu sou padrinho de batismo das três filhas
deles.
Padre
Angelo: E
quem são eles?
José
Maria: O
casal Ana e Joaquim.
(De
volta a Alpendres, cena de Ana e Adelia)
Adelia:
Me
informaram que você é a melhor costureira da cidade. Posso entrar?
Ana:
Claro,
fique à vontade. O que deseja?
Adelia:
Encomendar
um vestido para usar no dia da posse do meu marido. Mas, lembre-se,
tem que ser o vestido mais bonito da festa. Afinal, eu sou a primeira
dama.
Ana:
De acordo.
(As
meninas choram)
Adelia:
O que é
isso? São suas filhas? Mas é muito jovem... Quantos anos tem?
Ana:
25.
Adelia:
Nossa! Ser
mãe deve ser a realização plena de uma mulher.
Ana:
Foi o dia
mais feliz da minha vida. Mas, por que diz isso? A senhora pode ter
filhos com seu marido.
Adelia:
Não, não
posso! Sou infértil! Mas, você tem razão. Eu posso ter uma filha.
Garota, quanto você quer numa de suas filhas? Você pode me vender?
Afinal, você tem três! Você vende pra mim? Vende?
Post. Augusto Freire