TORCEDOR BRASILEIRO
Dia desses vi uma cena curiosa na TV. Um torcedor do Atlético-MG, de Belo Horizonte, decidiu ir ao treino do time para interpelar os jogadores quanto aos maus resultados. A maioria passava de carro pela portaria e nem dava atenção ao rapaz. Um dos atletas parou seu veículo e desceu o vidro. Então o torcedor passou a fazer cobranças como se fosse o patrão e o jogador, o empregado.
Essa situação é comum no futebol brasileiro, onde os clubes se configuraram de forma que seus torcedores se sentem donos deles. Basta uma sequência de jogos sem vitória para provocá-la. Porém, pergunte a um torcedor presente num protesto contra seu time quantas vezes foi até a prefeitura para reclamar da administração da cidade. Ou então exigiu o afastamento de um político corrupto.
Nem precisa escapar do futebol para apontar como o torcedor brasileiro, em geral, preocupa-se com o que é menos importante, como manda a política do pão e circo. A preparação para a Copa de 2014, cheia de contratempos, já deu vários sinais de que o torneio será o mais bagunçado desde que se tornou evento de alcance global.
Todas as sedes já tiveram entraves na preparação, como suspensão de licitações e obras por Tribunais de Contas e Ministério Público, atraso de prefeituras e governos em cronogramas, dificuldade em obras, superfaturamento de preços, denúncia de irregularidades ou ameaça de greves. E houve alguma manifestação contra tudo isso?
Fica fácil entender por que Ricardo Teixeira, presidente da CBF, considera a Copa do Mundo sua propriedade quando se vê absurdos como o revelado por O POVO esta semana. Grande parte do gramado do Castelão é retirada nas obras, seu destino é considerado incerto por um secretário do Governo e somente após cobrança da imprensa surge explicação oficial. É lamentável.
Mas nem tudo está perdido. A entrevista que Ricardo Teixeira deu à revista Piauí deste mês para se gabar de seu poder irrestrito teve reação. Um autor anônimo lançou o site www.foraricardoteixeira.com.br, para dizer as verdades que certos veículos de comunicação preferem omitir, e já teve várias adesões em uma semana. É a oportunidade de o torcedor brasileiro mostrar que é possível ser doente e, ao mesmo tempo, consciente.