Apresento aqui uma entrevista que meu colega de faculdade, Adolfo Soares realizou com um agente penitenciário objetivando conhecer sua relação com os presos e o sistema interno de segurança.
1 - De maneira geral, como se dá sua relação com os detentos?
Primeiramente gostaria de pedir desculpa por não poder me identificar por problemas de segurança e também por que alguns fatos que vou revelar não podem ser gravados, pois são fatos reais que acontecem dentro das muralhas dos presídios e oficialmente não existem. Vou me identificar como “Professor”. Na realidade existem dois tipos de relacionamento com os presos. No meu caso integro ao grupo dos agentes penitenciários que em primeiro lugar não tomo partido de nenhuma facção ou grupo que existe no presídio ou nas cadeias públicas, respeito o preso e sua dignidade humana. O outro grupo é totalmente o contrário, são as múmias como tratamos o pessoal mais antigos que batem nos presos, humilham quando possível, fazem agressões físicas e morais acarretando uma relação de medo e de desejo de vingança. No meu caso nunca tive problema sério com qualquer detento, pois parto do princípio que seus direitos devem ser respeitados e para que possa sobreviver dentro do presídio ou da cadeia é necessário você criar um pacto de respeito. Não sou daqueles que batem quando do baculejo, ou procuro expor a família do preso a constrangimento e nem sou da ala que se corrompe para dar a alguns grupos, ou melhor, algumas pessoas privilégio dentro do presídio. Vejo é claro tudo isso, mas finjo que não vejo para que eu possa permanecer dentro do grupo sem me preocupar com minha segurança pessoal, pois as condições de trabalho são mínimas e temos que procurar meios para sobreviver lá dentro. Procuro tratar todos os presos na mesma condição, mas deixando bem claro a minha posição e a posição deles através do diálogo e da conversa e quando não dá através da forma de intimidação e da sanção penal que está ao meu alcance.
2 - O Sr. já sofreu agressão de presos?
Não, até agora nunca sofri agressão físicas ou intimidação, apenas quando temos que dominar algum preso por abstinência de droga ou por se encontrar drogado tivemos alguns contratempos e tive problemas para dominar, mas alguns colegas já sofreram agressões físicas e até mesmo tentativa de morte por parte dos presos, dentro e fora do trabalho, mas acredito que são aqueles que tentam se impor pela força pela truculência e acabam arrumando inimigos. Claro que não estou imune a agressão e nunca passei por uma rebelião, mas confio em Deus e vou levando o trabalho. Só me lembro de uma vez quando estava trabalhando no manicômio que um dos detentos tentou me agredir com uma barra de ferro, digo um cossoco, mas acabei convencendo o mesmo a entregar a arma e recolhi para o isolamento sem precisar a PM intervir.
3- Como se dá a relação entre os presos?
A relação se dá na maioria das vezes de afastamento sem muita intimidade com o preso até mesmo para minha segurança. Procuro evitar envolver com os problemas familiares deles, tratando de forma unitária e desvinculando a minha imagem da imagem de amigo de polícia, pois quem é muito amigo de polícia fica muito visado dentro do presídio ou da cadeia que são dois ambientes totalmente diferentes, pois na cadeia você tem uma aproximação maior com o preso, a convivência é mais próxima e procuro evitar esta proximidade para evitar problemas com outros presos e não ser acusado de amigo de grupo ou facção. Tenho a vantagem de já ter trabalhado com os presos antes de trabalhar como agente penitenciário o que me facilita um pouco no aspecto de relacionamento com eles. Para se ter um bom relacionamento é preciso fazer amizade como o chefe da cela, o preso mais antigo que é quem dita as ordens dentro da cela e todos obedecem caso contrário é expulso da cela ou vira presunto.
4- Qual a maior dificuldade encontrada pelos agentes penitenciários em garantir a segurança interna?
A maior dificuldade encontrada pelos agentes para garantir a segurança interna são os diversos grupos ou facção que se forma dentro do presídio e das cadeias, são os estupradores que não são aceitos pelos detentos e devem viver isolados dos demais presos, a luta pelo poder dentro do presídio e a luta pela liderança dentro do presídio, bem como o tráfico de drogas que existe lá dentro. A falta de estrutura das cadeias e presídios favorece a balburdia lá dentro e a falta de equipamentos para proteção do agente penitenciário que praticamente trabalha de mãos limpas só com a cara e a coragem.
5 – E quanto às medidas disciplinas, qual a eficácia a cada tipo de preso?
A principal medida é o isolamento e a proibição de visitas, a falta de notícias dos familiares ou mesmo o único contato com o mundo lá fora que o preso viveu é a medida mais eficaz, todos de um modo geral teme ficar proibido de visitas e o castigo, no caso do estuprador a ameaça de descer ou ir para uma cela comum torna-o um cordeiro, os outros a visita é uma oportunidade de conseguir algo para barganhar dentro do presídio ou trocar por algum privilegio ou mesmo para se manter vivo lá dentro são poucos aqueles que abdicam deste direito e os outros presos da cela ou do presídio fazem questão de manter a ordem e pune quem prejudica ou faz com que eles fiquem proibidos de receber visitas.
6- Tem mais alguma coisa que o Sr. Queria acrescentar, quanto à relação entre os presos e os agentes?
Na verdade não, apenas quero deixar bem claro que pelos problemas que vemos aqui dentro não há um programa de reabilitação do preso, falta boa vontade por parte das autoridades publicas para que os programas de reabilitação seja válido como o trabalho e a profissionalização do preso, hoje o que ocorre é a especialização do preso no crime. O preso não rende votos e nem dá ibope, por isso são poucas as verbas e a discriminação da sociedade que começa pelo PM e passa pelos agentes prisionais também é grande, para a grande maioria o preso não tem recuperação e tem que pagar sua divida com a sociedade da pior maneira possível sofrendo, apanhado tratado como cachorro e não como um ser humano. A grande maioria que entra nos presídios ou que convive com o preso é contra a qualquer tentativa de melhora para eles ou de algo que venha a dar maior dignidade humana a eles, o preso para eles é o lixo da sociedade, as vezes acabo me associando a idéia e tenho que me policiar para não acabar caindo nesta triste realidade e norma que impera atrás das muralhas das cadeias e dos presídios. É necessário pensar em políticas de resocialização do preso, pois algum dia eles deverão retornar para a sociedade e este retorno se dará de que maneira?
Postado por: DOUGLAS ALCÂNTARA
Fonte: adolfo-soares.blogspot.com