CAPÍTULOS 21 E 22
Valentino: Agora me conte tudo o que se passou aqui nestes 20 anos.
(Cassiano está saindo de casa. Julia o chama)
Julia: Aonde vai, Valentino?
Cassiano: Marquei de almoçar hoje com o Padre Francisco. Ele tem algumas ideias para a Pastoral de Recursos Hídricos e quer a minha ajuda.
Julia: Quer que eu vá também?
Cassiano: Não, mas avise seu pai que talvez eu vá vê-lo esta noite… Não, melhor. Chame-o para jantar aqui. Ele tem que estar a par dos planos do padre, para poder me orientar melhor.
Julia: Você como sempre atento às necessidades dos outros. É isso que eu mais admiro em você, Valentino.
Cassiano: Sim, claro, Valentino! Bem, já vou!
(Enquanto isso)
Mario: E tem sido assim até hoje. Nunca ninguém desconfiou da troca. Nem mesmo Clarita que era apaixonada por você.
Valentino: Como ela está?
Mario: Clarita está bem, mas não quis mais se abrir ao amor.
Valentino: Tenho que vê-la.
Mario: Está louco?
Valentino: A Clara pode nos ajudar. Por isso eu tenho que aparecer a ela. E será hoje.
(Clarita está na Rodoviária)
Clarita: Uma para Fortaleza, por favor!
(Clarita sobe no ônibus, mas o motorista perde o controle e o veículo capota, descendo barranco abaixo. Enquanto isso, Cassiano chega à casa do Padre.)
Padre Francisco: Chegou cedo, Valentino.
Cassiano: Sempre sou pontual.
Padre Francisco: Sim, essa sempre foi sua virtude. Sente-se, o almoço já está pronto. Eu mesmo fiz.
Cassiano: Como? O senhor cozinha?
Padre Francisco: Sou expert. Não é pra me gabar não mas, no seminário eu era o melhor. Olha só o que eu fiz, macarronada com bacon.
(Na casa de Mario o telefone toca)
Mario: Alô! Sim, eu a conheço! Como? Está seguro disso? Não, está certo! Estou indo aí!
Valentino: O que houve?
Mario: Clarita sofreu um acidente na BR que vai pra Fortaleza e está no Hospital.
Valentino: Eu vou com você!
Mario: Fica aqui! Ninguém pode te ver! Eu volto logo!
(Depois do almoço)
Padre Francisco: Você gostou do almoço, Valentino?
Cassiano: Sim, estava muito gostoso.
Padre Francisco: Eu sabia. Esse é seu prato preferido, foi sua mãe que contou.
(Cassiano está pensativo)
Padre Francisco: Por que está tão calado, Valentino?
Cassiano: Padre, eu tenho que lhe confessar uma coisa.
Padre Francisco: Diz então!
Cassiano: O senhor é o único em quem eu posso confiar… Tenho que dizer que… Eu não sou o Valentino… Meu nome é Cassiano Pires Cavalcantti!
(O Padre Sorri)
Padre Francisco: Beleza!
Cassiano: Por que o senhor sorriu?
Padre Francisco: Não sabe o quanto me agrada a sua confissão?
Cassiano: Isso lhe deixa feliz?
Padre Francisco: Sim, porque eu já sei faz tempo.
Cassiano: Desde quando sabe?
Padre Francisco: Faz 20 anos.
Cassiano: Foi o Rigoberto que lhe disse?
Padre Francisco: Não e nem precisa.
Cassiano: Então?
Padre Francisco: Foi logo que veio aqui cancelar o casamento religioso. Percebi que havia algo errado.
Cassiano: Não entendi.
Padre Francisco: Estou há muitos anos nesta cidade. Conhecia o seu irmão e pude observar você, mesmo que de longe durante esses 20 anos e eu pude concluir. E tem mais: o Valentino não come bacon nem que lhe paguem!
Cassiano: Por que fez isso, padre?
Padre Francisco: Para mostrar a você, Cassiano que você pode confiar em mim. Eu estou do seu lado. Quero ajudá-lo.
Cassiano: Padre, por que é que eu tenho a impressão que o senhor é o único que se importa comigo? Os outros só me veem como Valentino?
Padre Francisco: Você procurou isso ao assumir o papel dele.
Cassiano: Mas todos só amam o Valentino.
Padre Francisco: Isso não é verdade! São coisas da sua cabeça que você alimenta.
Cassiano: Padre, eu entrei num caminho sem volta!
Padre Francisco: Mas tem jeito! Tem jeito! E você sabe o que precisa fazer, não sabe?
Cassiano: Sei…
Padre Francisco: Então, o que espera?
Cassiano: Obrigado, padre. O senhor é um grande amigo.
(Mario chega ao hospital onde está Clarita)
Mario: Bom dia, eu sou amigo da Clara Plata, meu nome é Mario Peres. Como ela está?
Médico: Bateu forte com a cabeça. Teremos que fazer uma cirurgia imediatamente, ela corre o risco de…
Mario: de?
Médico: Perder a visão!
Post. Augusto Freire
