***Capítulo
29***
Rosa
Maria: Por
que vocês não dão o fora? Agora, Já!
Espoleto:
Mulher
nenhuma fala assim comigo.
Rosa
Maria: É
porque eu sou a primeira. Vaza! Se não você vai ver só!
Espoleto:
O
que é que eu vou ver...
Rosa
Maria: Estrelas...
(Rosa Maria acerta uma joelhada entre as pernas de Espoleto, que cai
de dor)
Rosa
Maria: E
agora, mané? Vai me deixar em paz ou eu vou ter que apelar?
Espoleto:
Tu
ganhou dessa vez, mas isso não vai ficar assim!
(Ele e Aguardente vão embora)
Baluarte:
Não
devia ter feito isso...
Rosa
Maria: E
o que você queria? Fala sério, Baluarte!
Baluarte:
Não,
na boa, mas é que agora sim é que eles vão ficar de marcação
contigo... é melhor não marcar bobeira.
Rosa
Maria: Acontece
que eu não tenho medo daqueles dois zé manés!
Baluarte:
Olha
lá!
Abre
o olho! Vê no que se mete, garota. Essa trupe né mole não!
(Amanhece, Baluarte e Rosa Maria vão à porta da Igreja pedir
esmolas. Ela toca músicas na gaita e ele faz malabarismos e mágica.
Em pouco tempo, muitas pessoas estão olhando o “espetáculo dos
dois” e eles arrecadam um bom dinheiro. De longe, são observados
por Aguardente e Espoleto)
Espoleto:
Tá
vendo, Aguardente? Roubaram o nosso território... A gente tem que
acabar com isso já!
(Com o dinheiro arrecadado, Rosa Maria e Baluarte compram pão)
Baluarte:
Sabe,
Rosa... Tava pensando: acho que tu devia seguir a carreira artística,
tá se perdendo nas ruas. Já parou pra pensar?
Rosa
Maria: Já!
E é pela mesma razão que um mago como você não está num circo ou
teatro que eu também não sou famosa... Não nasci pra isso...
Baluarte:
Desculpa,
não quis ofender.
Rosa
Maria: Então,
para de querer dar palpite na minha vida.
Baluarte:
Chega!
Pra mim chega, Rosa! Eu não aguento mais essa tua vontade de me
engolir vivo. Se tá a fim de fazer alguém chorar, taca pimenta nos
olhos e veja como a gente se sente... Vê se é bom fazer os outros
sofrerem. Eu só quero te ajudar... Mas se tu quer continuar sozinha
como sempre foi então adeus!
Rosa
Maria: Pois
nem vai fazer falta!
(Baluarte vai embora. Rosa Maria ouve passos de alguém que se
aproxima. Ela se vira bruscamente e vê Espoleto e Aguardente armados
de cacetes correndo em sua direção. Ela grita. Baluarte volta para
protegê-la, se põe na frente e leva uma paulada na cabeça. Com o
golpe, ele desmaia.)
Aguardente:
Ih!
Sujou! Sujou! Dá no pé! Vaza!
(Os moleques fogem. Rosa Maria se abraça em Baluarte e tenta
reanimá-lo)
Rosa
Maria: Baluarte!
Baluarte!
(Baluarte desperta)
Rosa
Maria: Por que me defendeu?
Mesmo depois de tudo?
Baluarte:
Porque eu te amo, Rosa Maria...
(Os dois se beijam)
Rosa
Maria: Espera! Isso não tá
certo! Lembra que... a gente tem que se separar?
Baluarte:
Rosa, eu não posso ver você
longe de mim!
Rosa
Maria: Pode sim... Até porque,
eu não pedi pra arriscar a vida por mim. Eu não pedi nada. Também
não pedi esse seu amor idiota!
(Rosa levanta e vai embora)
Rosa
Maria: E não me siga!
Post. Augusto Freire