***CAPÍTULO
1 ***
(Santa Quitéria, 1980. Na zona rural, afastada da cidade, vive o
casal José Antonio e Edvirgens, que vivem da agricultura junto com
os três filhos: Getúlio, Maria de Lurdes e a pequena Quitéria de 8
anos. Antonio é alcoólatra e sempre que bebe, chega violento em
casa. Uma noite, enquanto todos jantam...)
Getúlio:
Mãe, cadê o pai?
Maria
de Lurdes:
Tu tem fé em Deus, minino? Aquele ali, tão cedo num dá as cara...
Getulio:
Quê isso, mãe? Num sô de acordo cum isso não! Aí, nóis trabáia,
dá duro nessa terra e o pai gasta tudo na cana?
Edvirgens:
Para com isso, vocês dois! Ele é pai de vocês. Inda que teje
errado, mais é pai, e vocês lhe deve respeito!
Maria
de Lurdes:
Ah, sim! Quando muito a gente respeita quem se dá o respeito mais
aquele ali...
(Antonio chega em casa embriagado)
Antonio:
O que tem eu?
Getulio:
Arre, Pai, de fogo de novo?
Antonio:
Que tu tem com isso?
Getulio:
É que nóis tamo cansado, pai de só ter que trabaiá e trabaiá pro
sinhô e óia comé que tu trata nóis!
Antonio:
Tu cala essa tua boca... tu e essa tua irmã, a Maria de Lurdes.. eu
sô o pai... é eu que mando... mando e desmando... cês rão fazer o
que eu quisé e acabou-se a história.
Edvirgens:
Quitéria, querida, enta lá pa dento. Rá po seu quarto, rá...
Antonio:
Chelaí! Minha fia também... O que eu disser agora, ela tem que ver
e escutar. E hoje, como cês se astrevero a me disafiar, ninguém
come.
Getulio:
Eu nem faço emprenho dessa sua comida pôde a álcool!
Maria
de Lurdes:
Nem eu!
Edvirgens:
Antonio, a Quitéria é uma criança, num pode dormir sem comer...
Antonio:
Ela é minha fia igual os ôto. E rai tê castigo igual. Ocê também
num coma. Se eu pegar alguém comendo, eu meto os tabefe. Agora, eu
rô saí...
Getúlio:
Rai enchê a cara o resto da noite?
(Antonio
sai e bate a porta. Getulio fica gritando)
Getulio:
TRISTE DO PAI QUE AMA MAIS A PINGA DO QUE A FAMÍLIA!
(De madrugada, Quitéria começa a tossir. Edvirgens levanta e vai
ver o quer ela tem)
Edvirgens:
Ô, minha fia, que que cê tem, hein? (coloca a mão na testa da
criança) Ai, minha Santa Quitéria essa minina tá com muita
febre... Espera, eu pegar comida pra você.
(Edvirgens pega uma fruta e dá para a menina comer.)
Edvirgens:
Tá mió?
Quitéria:
Acho que tô.
(Antonio chega)
Antonio:
EU TE DISSE QUE TU NUM DESSE COMIDA PRA SEU NINGUÉM NESSA CASA!
Edvirgens:
Espera, eu posso explicar...
Antonio:
Explicar o que? A tua disobediencia? Que qué passá por cima das
minhas ordi, tenha certeza duma coisa, Edvirgens, aqui o homem sou
eu.
(Os outros filhos acordam)
Maria
de Lurdes:
Que foi, mãe? Que gritaria é essa?
Getulio:
Que que ele fez com a senhora, mãe?
Antonio:
Num fiz nada ainda, mais vô fazer, vô te dá a maió surra da tua
vida que tu vai te arrepender de ter nascido.
Edvirgens:
Não, por favor...
(Quitéria fica na frente da mãe)
Quitéria:
Não! Não bate na minha mãe! Só vai bater nela depois que me
matar!
Baseada no Argumento Original de: Francisco Freire Caetano Filho
Post. Augusto Freire
Post. Augusto Freire